domingo, 17 de março de 2013

Cinza



Tinha o costume de observar a chuva e sentir como se ela lavasse a alma; de observar o vento e sentir como se ele levasse embora qualquer tipo de energia ruim; observar as flores e sentir que a vida se renovava a cada florescer...
Tudo fez sentido durante algum tempo, tudo se encaixava de forma harmônica, quase poética. Até que em determinado ponto, tudo aquilo que tinha cores, tornou-se um borrão: a chuva   passou a  ser triste; o vento passou a ser frio; as flores já não mais floresciam.
As estações do ano resumiam-se todas em apenas uma: um frio e sem cor, inverno. Mas do pior tipo de inverno que poderia existir, o inverno da alma.
Onde antes batia um compassado coração, hoje existe no lugar um coração triste e frio e por mais abstrato que possa parecer o somatório de todas essas coisas, é a realidade de alguém que perdeu algo - ou alguém - importante, a realidade de alguém que já não sabe mais amar.
Olhar o Mundo e para o Mundo sem amor, é como admirar o mar em uma noite sem luar: o mais puro breu e por trás ainda existe a sensação do vazio, pois mesmo sabendo da quantidade de criaturas que habitam os oceanos, à noite é como se todas desaparecessem para retornarem somente quando o sol aparece novamente. E é exatamente assim que se enxerga o mundo na ausência do amor: como se todas as criaturas desaparecessem.
É olhar ao redor, saber que tudo está em cores, mas somente conseguir enxergar em cinza escuro.